‘Vidas na rua’: conheça brasileiros com histórias e perfis diferentes que foram parar nas ruas

  • 12/07/2024
A Cracolândia, em São Paulo, é o retrato mais difícil e dramático da situação de rua - mas não o único. São Paulo é tema da última reportagem da série sobre quem não tem um lugar pra morar Nesta semana, o Jornal Nacional dedicou uma atenção especial para a situação dolorosa das pessoas que não têm um teto e que, por isso, passam os dias e as noites na rua, ao relento. São milhões em todos os continentes. O Jornal Nacional mostrou como o Reino Unidos e os Estados Unidos tentam lidar com esse problema social gravíssimo e vimos, também, a ação solidária de voluntários no Rio de Janeiro. Nesta sexta-feira (12), é a vez de apresentar a realidade de quem está nas ruas de São Paulo. O vento vira as páginas de uma velha bíblia. A fé está presente no improviso das ruas. Assim como hábitos de uma vida que ficou para trás. “Eu gosto de limpeza, entendeu? Eu amo limpeza”, afirma Francisco Martins, pintor de carro. Nem todos têm forças para manter a dignidade em condições tão precárias. “Não é fácil sair da droga, moça. Entendeu? Eu falo: é passo sobre passo”, diz Emerson da Silva, catador de reciclável. “Não uso droga nenhuma. Só bebida. Beber eu bebo, não minto para você”, conta Francisco. Repórter: Vi que você ficou triste de falar que passou sozinho Natal e Ano Novo. Ter uma família sem ter um teto aperta forte o coração de mãe. "O que sonho é um futuro melhor, é estudo, tirar meus filhos daqui”, diz Gisele Abreu. Mas, muitas vezes, é a rua que acolhe o que foi incompreensão na família, na escola. “Eu era tão diferente dos outros... Só em 2022, quando eu já estava em situação de rua, um amigo me explicou sobre o transtorno do espectro autista”, conta Tarik Jesus Martins. Há também a vergonha do passo errado. “Eu fiquei durante algum tempo preso e, quando saí, resolvi tocar minha vida sem pedir auxílio”, diz José Roberto da Silva. E a vida transformada ao perder a fonte de sustento. “O principal fator para eu ter me levado para a situação de rua foi o desemprego”, afirma Viviane Aparecida da Cunha do Prado. Francisco, Emerson, Gisele e sua família, Tarik, Roberto, Viviane são alguns dos rostos de tanta gente que está ou já esteve em situação de rua. VIDAS NA RUA Série especial mostra problema que desafia governos no Brasil e no mundo Iniciativa nos Estados Unidos inspira projetos de acolhimento no mundo todo Não ter onde morar é perder o acesso a uma série de direitos fundamentais Mais de 60 ONGs ajudam pessoas em situação de rua na capital da Argentina Desemprego, inflação alta e imigração explicam aumento do número de pessoas vivendo nas ruas de Portugal 'Vidas na rua': sem trabalho após internação por Covid, brasileira vive em situação de rua em Roma há dois anos Há 24 anos, um grande esforço foi feito para contar uma a uma as pessoas vivendo nas ruas de São Paulo. Eram 5.013 e mais 3.693 em albergues - 8.706 no total. Hoje, as estimativas variam: 31 mil segundo a prefeitura, e 76 mil segundo pesquisa com dados do CadÚnico. A prefeitura informa ter cerca de 24 mil vagas em centros de acolhida, hotéis, repúblicas e imóveis temporários. Há décadas, a economista Silvia Shor coordena censos e estudos sobre população de rua, que ela vê aumentar junto com desemprego, desigualdade e o custo da moradia. “A condição de rua é inaceitável. Por quê? Porque é a negação de condições mínimas que permitem às pessoas se tornarem cidadãos. A terra está ficando escassa nas favelas. Proprietários estão cobrando aluguel. Você tem uma conjugação de condições que estão realmente fazendo com que a solução rua esteja se tornando a única alternativa para um grupo grande de pessoas”, afirma Silvia Shor, coordenadora do Centro de Estudos sobre População em Situação de Rua - Fipe. De alguns poucos fumando os primeiros cachimbos de crack no início dos anos 1990, a uma multidão de usuários. A Cracolândia é o retrato mais difícil e dramático da situação de rua - mas não o único. Alcoolismo e abuso de drogas, desemprego e conflitos familiares apareceram como as principais razões da situação de rua em uma pesquisa nacional feita em 2007 e 2008. São dados importantes para direcionar políticas públicas de assistência e saúde. Mas quem conhece de perto e estuda o problema propõe novas maneiras de ver, entender e acolher essas pessoas e suas histórias de vida. Dentro do viaduto já existiu um albergue precário. A virada começou com a ruptura com o preconceito. “Quando eu caí na situação de rua, que já não tinha mais nada, foram essas pessoas que achavam que eram um mal que me acolheram, que me ensinaram tudo o que aprendi hoje”, conta Darcy Costa, coordenador do Cisarte. Darcy, que era corretor de imóveis, se reergueu com ajuda do povo da rua e da companheira. Juntos, conseguiram limpar e transformar o lugar. A ONG Cisarte oferece acolhimento, cursos e trabalho. Darcy é também coordenador do Movimento Nacional da População de Rua e defende uma ideia que vem ganhando força no Brasil e no mundo: fazer da moradia o centro da política para essa população. É o que incentiva o guia feito em 2022 por servidores federais especializados em direitos de minorias sociais. “Nós estamos no século XXI enxugando gelo. Assistência social tem que estar ligada à questão da moradia também”, afirma Darcy Costa. Foi essa a chave para a mudança de vida do cozinheiro José Roberto da Silva - a chave de seus dois cômodos. “É muito importante, muito, muito, muito, muito, muito. Porque traz um pouco mais de autonomia e um pouco mais de tranquilidade, um pouco mais de paz”, afirma. O que alimenta o sonho da Viviane Aparecida do prado de se tornar arquiteta. Hoje, bolsista na faculdade Mackenzie em São Paulo, ela trocou o albergue pela moradia de um projeto piloto em Curitiba que fornecia a casa antes de tudo. A entrada no apartamento em 2021 foi inesquecível. “Nossa, eu não aguentei, eu comecei a chorar. Me ajudou a ter mais estabilidade tanto financeira quanto emocional. Então, para mim, foi ótimo”, conta a estudante de Arquitetura. Tarik Martins Rocha acaba de entrar na faculdade de Letras. Ensina na ONG do Darcy o inglês que aprendeu sozinho, mas sente a carência e a insegurança dos serviços públicos. “Tem muitas pessoas, não só com deficiência intelectual, outros autistas. São pessoas com deficiência física, cadeirante, muletante, e muitos desses serviços não estão prontos para acolher esses casos. O lugar onde eu estou acolhido não é permanente. Logo vou ter que sair. Eu ainda não estou pronto para continuar com a vida sem esse auxílio”, afirma o estudante de Letras. Francisco, Emerson e tantos outros ainda carecem de apoio e forças para se reerguerem. Como 70% dos que estão nas ruas, eles sobrevivem da reciclagem, dos bicos, e contam com a caridade também. Já Gisele Abreu e sua família foram acolhidas em um projeto municipal de moradia, com duração de dois anos. Querem superar a pobreza crônica, uma jornada de despejos conhecida por quem nunca ganhou o suficiente para ter o próprio lar. “Vai para um lado, vai para o outro, sem rumo. Aí tem um tempo, a gente fica ansiosa. Vou para onde? Hoje em dia não tem condição de a gente comprar uma casa”, diz Gisele. Mas Sofia Abreu imagina, e com detalhes, a casa onde quer morar. “Que tenha tipo uma mesa assim na varanda que a gente possa ver a vista, sentar todo mundo para comer junto”, diz a estudante. Sim, é fácil entender o que é desejo e necessidade básica: ter a rua apenas como caminho de quem sempre tem para onde voltar. Se você pode e quer ajudar as organizações que apareceram nas reportagens e outros projetos que trabalham com a população em situação de rua no Brasil, pode ir até a página na internet paraquemdorar.com.br. Lá, você encontra instituições confiáveis que vão levar a sua ajuda a quem precisa.

FONTE: https://g1.globo.com/jornal-nacional/vidas-na-rua/noticia/2024/07/12/vidas-na-rua-conheca-brasileiros-com-historias-e-perfis-diferentes-que-foram-parar-nas-ruas.ghtml


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